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Depressão & Psicologia Analítica


Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país com maior taxa de deprimidos no mundo. Com isso, é extremamente importante conscientizar cada vez mais a população sobre essa doença que deve ser tratada de forma séria com acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Nesse blog ainda falarei muito sobre esse tema. Mas hoje, para iniciar, vou falar sobre a depressão na visão da Psicologia Analítica.


No sentido simbólico, como nos diz Alvarenga (2007), a depressão é a dor da alma que se perdeu da própria natureza, sendo um estado de aprisionamento no qual a pessoa se coloca, se sente ou se sabe, mas sem entender a razão de estar nessa situação. A sensação de perda da liberdade faz com que o indivíduo se sinta escravizado e, consequentemente, submetido à obrigatoriedade de cumprir com tarefas, sem poder de escolha, sem poder criativo. A impossibilidade de criar um novo futuro o coloca como prisioneiro de um passado idealizado e perdido em si mesmo.


No entanto, o Self, buscando liberdade, manda expressões extrovertidas da dor da alma, como a cólera. A depressão está intimamente relacionada a uma cólera a qual não é dada suficiente expressão na consciência. Trata-se de uma raiva originalmente relacionada a alguém do convívio próximo (do presente ou do passado), mas que se volta contra a própria imagem do ego. Nos sonhos, essa dinâmica aparece em forma de agressão ao ego onírico por outra figura, como o caso que Hall (1983) apresenta de uma mulher que vivenciou uma traição por parte de seu marido - o que desencadeou sua depressão. Ela sonhava com insetos e répteis ameaçadores. Em certa ocasião, sonhou que estava num deserto, à noite, cercada de cactos e répteis, e ela sentia medo de se mexer, o que representava a sua própria agressividade não expressa e indicava a necessidade de afirmar seus verdadeiros sentimentos. Ao longo do processo terapêutico, a mulher foi tomando uma posição mais determinada, e passou a ter sonhos com elementos menos ameaçadores. Sonhou, por exemplo, que estava passando por um caminho em um campus universitário onde havia cobras venenosas, mas elas não estavam na trilha, o que permitia a passagem em busca de algo que talvez ela precisasse aprender. Quando a mulher começou a deixar seus verdadeiros sentimentos aflorarem, sua depressão começou a desaparecer. O sonho tinha uma natureza compensatória profunda; era uma autorrepresentação da psique, que colocou “uma estrutura do ego em funcionamento face a face com a necessidade de uma adaptação mais vigorosa ao processo de individuação” (Hall, 1983, p.31).

Ainda segundo Hall (1983), a agressão ao ego, representada no sonho, pode ter como objetivo o processo de individuação, ou seja, a conciliação do consciente com o nosso self. Para Jung (2008), a individuação inicia com uma lesão à personalidade que resulta em sofrimento. É como se o encontro com o self resultasse no nascimento de uma sombra. E nesse contexto, é preciso voltar-se para as trevas a fim de descobrir seu objetivo. Jung relata que esse propósito apenas se revela através de sonhos e fantasias inconscientes, repletos de imagens simbólicas.

As expressões extrovertidas da dor são uma tentativa do Self de renascer, mudar, uma última tentativa de não deixar a alma morrer. Alvarenga (2007) relaciona esse ato com a descida do herói Orfeu ao reino de Hades (reino dos mortos) buscando resgatar sua amada Eurídice, sua anima. Entrar no reino dos mortos significa morrer para então renascer, simbolicamente, para o novo. Essa viagem dá início ao seu processo de individuação, que se completa quando Orfeu consegue atingir sua plenitude através da busca por conhecimento e sabedoria profunda que abrem o caminho para que ele possa ser aquilo que nasceu para ser. Ao deixar seus vínculos, heranças e memórias para trás, abriu espaço para novas forças criativas e se religou com seu Self. Metaforicamente, o seguinte curta de animação (Overcomer, de Hannah Grace) ilustra bem esse processo:



*Lucrécia Aída de Carvalho é psicóloga clínica (CRP 08/32077) de orientação junguiana, especialista em Antropologia Cultural e mestranda em Psicologia na linha de pesquisa violência & sociedade. Oferece psicoterapia (individual e grupal) para adolescentes e adultos. Trata de questões como ansiedade, depressão, autoestima, traumas, criatividade e transtornos (TOC, misofonia e acumulação), propiciando insights profundos e libertadores.

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REFERÊNCIAS:


Alvarenga, M. Z. (2007). Depressão: a dor da alma de quem se perdeu de si mesmo. Revista Junguiana, São Paulo, 25, 19-27.


Hall, J. A. (1983). Jung e a interpretação dos sonhos: manual de teoria e prática. São Paulo: Cultrix


Jung, Carl G. (2008). O Homem e seus símbolos. (2ªed.especial) Rio de Janeiro: Nova Fronteira.


As imagens desse post foram retiradas do site Boredpanda.

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