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Exercitando a autoestima

O desenho como ferramenta para o fortalecimento da autoestima

*Por Lucrécia Aída de Carvalho


“Eu não sei desenhar”, “ Não desenho desde que era criança”, “Não sei o que desenhar”, “Não sou criativo”... essas são algumas das frases que ouço com frequência quando peço aos meus pacientes para que produzam um desenho/pintura livre durante o atendimento psicoterapêutico. É interessante notar como as pessoas estão distantes de algo tão natural e intrínseco à humanidade como o desenhar. Afinal, uma das primeiras formas de comunicação do homem se deu por meio de desenhos, e assim permaneceu por milhares de anos. Na verdade, se pararmos para pensar, é bem recente na história da humanidade que o desenhar tenha sido relegado a algo que se faz apenas quando se é criança.

Em minha prática como psicóloga clínica proponho com frequência o uso de ferramentas artísticas ao longo do processo psicoterapêutico pois, entre outros, a expressão artística possibilita significar conteúdos inconscientes que, ao se tornarem conscientes, podem ser transformados e solucionar conflitos. A arte amplia a expressão dos sentimentos, trazendo concretização e superação, além de fazer com que esses sentimentos possam ser percebidos socialmente.

Qualquer forma de arte pode ser uma expressão profunda da psique. Para que essa expressão ocorra, é preciso se entregar, se abrir, deixar de lado o controle. Segundo a ótica da psicologia analítica, um indivíduo pode se encontrar quando se perde em si mesmo – e é isso que a arte proporciona – um certo “descontrole” que, no entanto, alivia e acaba trazendo a possibilidade de uma organização psíquica afetiva que resulta em equilíbrio, autoconhecimento e, consequentemente, fortalecimento da saúde mental.

Uma boa saúde mental passa, obrigatoriamente, por uma autoestima saudável. A autoestima é um julgamento pessoal de valor que é expresso nas atitudes que tomamos em relação a nós mesmos. O amor próprio se constrói, aos poucos, em nossa relação com o outro - no ambiente familiar, no convívio social com amigos, no ambiente escolar. Então a autoestima é um combinado de percepções que eu tenho ao meu respeito e por aquilo que o outro diz de mim – e que eu aceito e internalizo.

Dito isso, vamos ao exercício de autoestima? Para tal, você vai precisar de duas folhas de papel (de preferência sulfite), um lápis e algum material de colorir (lápis de cor, giz de cera, canetinha, tinta guache, etc.). Para realizar este exercício é importante que você esteja sozinho e em ambiente tranquilo, silencioso. Pronto? Então, vamos lá!


Exercício de Autoestima:

1) Pense em como a sua autoestima foi sendo construída: quais elogios e características positivas ou negativas diziam para você em casa e/ou na escola e que você foi internalizando?

2) Agora pense numa característica sua que talvez lhe incomode um pouco, talvez uma questão difícil que você tem em relação a você mesmo, quem sabe alguma frustração com você mesmo... pense que cores e formas isso tem, pegue uma folha de papel e crie nela um desenho que represente essa característica, esse sentimento e/ou essa frustração.

3) Vá desenhando e se soltando da sensação ruim, como se você estivesse literalmente jogando ela no papel, tirando um peso de você. Tente se aceitar, sem julgamentos. Tente não julgar seu desenho, aceite o que vier e vá percebendo como se sente. Lembre-se de que quando ficamos resistentes à parte de nós mesmos que não gostamos, nos sentimos mal e às vezes até ficamos presos naquilo. Mas quando aceitamos, tiramos um peso de nós, nos apropriamos mais do nosso jeito de ser e abrimos espaço para a transformação. Por isso, tente acolher seus sentimentos, suas frustrações de uma maneira muito receptiva.

4) Agora pegue outra folha e desenhe/pinte uma resposta à primeira imagem que você criou. Tente imaginar uma resposta gentil, afetuosa para o primeiro desenho. Observe as cores que você utilizou no primeiro desenho e tente fazer um contraponto (se usou cores mais pesadas e escuras no primeiro desenho, tente fazer mais alegres e suaves no segundo, e vice versa);

5) Produza essa imagem pensando como ela é acolhedora, ela é feita do mais puro amor a você mesmo, um amor que te aceita e te acolhe, um amor incondicional por você mesmo.


Pronto! Agora tente fazer uma autorreflexão sobre como foi fazer esse exercício, se foi fácil tentar aceitar aspectos seus dos quais não gosta e/ou não está satisfeito, e como foi tentar fazer isso por meio do desenho. Você pode realizar esse exercício sempre que estiver se sentindo mal consigo mesmo. É um exercício de autoaceitação, que, se realizado gradativamente, pode auxiliar no fortalecimento da sua autoestima.


Caso você se sinta à vontade em compartilhar seu relato de experiência e desenhos, ficarei muito feliz em recebê-los no e-mail psiqueedescobertas@gmail.com!


*Lucrécia Aída de Carvalho é psicóloga clínica (CRP 08/32077) de orientação junguiana, especialista em Antropologia Cultural e mestranda em Psicologia na linha de pesquisa violência & sociedade. Oferece psicoterapia (individual e grupal) para adolescentes e adultos. Trata de questões como ansiedade, depressão, autoestima, traumas, criatividade e transtornos (TOC, misofonia e acumulação), propiciando insights profundos e libertadores.


A Psique & Descobertas oferece cursos, palestras e workshops sobre psicologia, saúde mental e sua relação com arte, cultura e sociedade. Para mais informações à respeito de valores e agendamentos, entre em contato pelo e-mail psiqueedescobertas@gmail.com ou pelo WhatsApp: 41 999967560.

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