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Pandemia & Saúde mental


Ao longo de 2020 tive a oportunidade de conduzir pesquisas e acompanhar grupos de apoio psicológico para mais de 100 pessoas impactadas pelo isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19 na cidade de Curitiba - PR. Ansiedade, medo, insegurança, necessidade de rápida adaptação e diversos tipos de preocupações e sofrimentos impactaram profundamente essas pessoas.


Infelizmente, em pandemias, a atenção com a saúde mental tende a ser colocada em segundo plano. No entanto, medidas para o enfrentamento nesse sentido devem ser tomadas já que os impactos psicológicos decorrentes da pandemia podem ser ainda mais duradouros do que os efeitos do que o próprio acometimento pela Covid-19, segundo pesquisas recentes. Além dos sintomas de depressão, ansiedade e estresse identificados na população, o isolamento tem ainda como efeitos negativos sintomas de estresse pós-traumático, confusão, raiva e preocupações com a escassez de suprimentos e perdas financeiras - situações sociais que impactam profundamente na saúde mental.


A Quiet Place, arte de Silviya Georgieva-Sellv

Nesse sentido, segundo Costa & Mendes (2020), é preciso olhar a Pandemia do Covid-19 sob uma ótica ampliada que considera o sistema econômico no qual estamos inseridos. Para os autores, nossa dinâmica social é estruturada em antagonismos sociais de classe, raça, etnia e gênero, numa construção que prioriza individualizar e culpabilizar um ser que na realidade é social. A pandemia seria então mais uma faceta crítica que agrava a crise de um sistema já doente com questões de ordem econômica, política, social e humanitária. Os autores convidam ainda à reflexão, postulando que se o que o sistema deseja é o isolamento, então que este seja apenas físico e que a partir dele seja possível fomentar a solidariedade - uma solidariedade como oposição a uma lógica de vida que nos divide e individualiza. Os autores defendem que a Pandemia do Covid-19 coloca à prova as relações sociais, de como aquilo que fazemos impacta na vida uns dos outros, e como a saúde mental é resultante desse processo. A solidariedade, segundo eles, deve então ser encarada como responsabilização (e não como autoculpabilização), sendo antagônica à lógica individualizante do capital.

Diante destes fatos, fica evidente a crescente necessidade de grupos de apoio emocional, visando oportunizar um espaço de diálogo para as pessoas em sofrimento e proporcionar qualidade de vida. Grupos de ajuda mútua geram sentimento de pertencimento, possibilitam trocas de dificuldades e suporte mútuo, possibilitam aprendizagem de novas estratégias para enfrentamento de diversos problemas, ampliam as redes de contatos e fortalecem a autonomia dos sujeitos. Por isso, devem ficar cada vez mais frequentes e ser cada vez mais bem aceitos no Brasil. Vamos torcer, pois um povo que cuida de sua saúde mental passa a ter mais confiança, segurança, empatia e liberdade.


*Lucrécia Aída de Carvalho é psicóloga clínica (CRP 08/32077) de orientação junguiana, especialista em Antropologia Cultural e mestranda em Psicologia na linha de pesquisa violência & sociedade. Oferece psicoterapia (individual e grupal) para adolescentes e adultos. Trata de questões como ansiedade, depressão, autoestima, traumas, criatividade e transtornos (TOC, misofonia e acumulação), propiciando insights profundos e libertadores.


A Psique & Descobertas oferece cursos, palestras e workshops sobre psicologia, saúde mental e sua relação com arte, cultura e sociedade. Para mais informações à respeito de valores e agendamentos, entre em contato pelo e-mail psiqueedescobertas@gmail.com ou pelo WhatsApp: 41 999967560.


REFERÊNCIA: Costa, P.H.A., Mendes, K.T. (2020). Saúde mental em tempos de crise e pandemia: um diálogo com Martin Baró. Retirado de https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/62891745/Saude_mental_em_tempos_de_crise_e_p andemia_-_um_dialogo_com_Martin-Baro.pdf?1586464891

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